sábado, 28 de março de 2009

Fontes: apuração, veracidade, credibilidade e poder

Segundo a wikipédia, em Jornalismo, as fontes são pessoas individuais ou colectivas e documentos por meio dos quais os jornalistas tomam conhecimento de informações ou opiniões e verificam o rigor dos dados obtidos ou aferem a veracidade dos juizos de valor que lhes foram dados.

Os jornalistas raramente estão em condições de assistir a um acontecimento em primeira-mão, por isso necessitam de fontes. Mesmo quando estão em directo num acontecimento necessitam de recorrer a uma fonte para se certificarem do que está a ser dito. Assim, existem diferentes patamares pelos quais a informação chega até ao jornalista: através de rotinas, processo informal, iniciativas.
Tipos de fontes

Fontes oficiais: políticos governamentais, empresários, líderes religiosos
Fontes não oficiais: ONG’se, sindicatos, anônimos

Neste processo de estudo, mais de metade das fontes, 78%, são oficiais. Pessoas desconhecidas raramente aparecem nas notícias a não ser que estejam veiculadas a uma instituição. Os repórteres preferem as fontes conhecidas e quando não existem iniciam um processo de criação


Interpretações

Entre os autores que estudam as relações entre os jornalistas e as fontes de informação, está David Berlo (Nova York, 1960). Segundo ele, há quatro factores que podem aumentar a fidelidade/eficácia das fontes:

1) As suas habilidades comunicacionais - (Escrita, palavra, leitura)
2) As suas atitudes no dia-a-dia: para consigo, para com o assunto, para com os outros… Positividade é benéfica; a fonte deve dominar o assunto sobre o qual está a falar.

3) O seu nível de conhecimento: conhecimento profundo da instituição em que o assessor trabalha, domínio da mensagem que vai transmitir.

4) A sua posição dentro do sistema sócio-cultural. O meio em que vivemos pesa na forma como se constrói a mensagem. De acordo com o contexto age-se de forma diferente.

Já Molotch e Lester, em “A Fonte como Promotor” (EUA, 1974), identificam 4 tipos de acontecimentos:

1) Rotina – acontecimentos partidários e administrativos. Maior concentração de notícias origem no acesso estruturado
2) Acidentes
3) Escândalos
4) Acaso
Eles também separam três níveis de construção da notícia:

1) Os promotores surgem como interessados na divulgação do acontecimento para uso do público;
2) Os jornalistas recebem a informação e publicam-na. Transformam a ocorrência em acontecimento público através da emissão.
3) Os leitores que observam os acontecimentos tornados visíveis pelos órgãos de comunicação e criam um “reconhecimento público”

Leon Sigal (1979) conclui que a notícia não é aquilo que os jornalistas pensam, mas o que as fontes dizem. Para ele, as fontes são:

1) Organizações noticiosas
2) Rotinas jornalísticas
3) Convenções: onde está convencionado que está o debate nesse dia, conjunto de impulsos que existem na agenda mediática “todos falam do natal”

A socióloga da comunicação Gaye Tuchman diz no livro "Making News" (Londres, 1971) que os jornalistas integram uma estrutura social e cobrem temas de interesse para a sociedade em que estão inseridos. O jornalismo é uma prática rotineira de hábitos civilizacionais.
O jornalista está limitado no acesso à informação quanto:

1) Ao tempo – ritmo diário e não-diário
2) Espaço
3) Territorialidade
4) Especialização organizativa (se é rádio ou tv)
5) Especialização temática
6) Tipificação das notícias
7) Notícias do dia
8) Interesse humano
9) Temáticas
10) De continuidade
11) De desenvolvimento

O valor da fonte é tanto maior quanto for a capacidade de encaixe nesses valores. Induz ao conceito de negociação entre jornalista e editor na prevalência da fonte.

Pela teoria da definição ou conspiratória, é a fonte quem define o que é notícia. O acadêmico jamaicano Stuart Hall, especialista em estudos culturais, considera em “O Primeiro Definidor” (EUA, 1978) que os órgãos de comunicação social tendem a reproduzir a estrutura existente no poder, na ordem institucional da sociedade pois dão preferência aos definidores primários, aos porta-vozes.

Ele identifica quatro tipos de autoridade:

1) Fonte institucional
2) Fonte de poder ou de autoridade
3) Fonte política
4) Fonte sofisticada ou especializada (assessores)


Hall demonstra-se preocupado e diz que é importante haver mais jornalismo de investigação. Também há fontes não conhecidas, anônimas, que têm de desencadear processos espectaculares ou protagonizar algo que fuja à rotina para estar nas notícias.



O americano Herbert Gans, nos livros "Deciding What’s News" e "Negócio na Relação Fonte–Jornalista" (EUA, 1979), estudou o comportamento dos jornalistas na CBS, NBC, Time e Newsweek.

Definiu três tipos de fontes informativas:

1) Institucionais
2) Oficiais ou estáveis
3) Provisórias


O jornalista não se pode dar ao luxo de romper com um assessor sem mais nem menos porque precisa dele. Dois grupos de fontes quanto à sua utilização: fontes passivas e fontes activas.

Distingue entre jornalistas:

a) Especializados mais proximidade com as fontes. Cria relação de obrigações recíprocas (jornalista tem acesso a informação privilegiada, mas depois sente-se na obrigação de publicar assuntos de interesse para a fonte)

b) Não especializadosrecorrem a fontes oficiais por falta de tempo e ocupam-se de acontecimentos diferenciados.


Conjunto de factores que levam à negociabilidade na criação/construção da notícia:

* Incentivos – press, comunicados, conferências, inaugurações, …
* Poder da fonte – maior poder do assessor de uma câmara
* Capacidade de informação credível – quantidade e qualidade
* Proximidade social e geográfica – de acordo com o enquadramento do meio.

Cinco factores de conveniência na utilização das fontes:

*Oportunidade antecipada/revelada
*Produtividade
*Credibilidade
*Garantia de qualidade
*Responsabilidade


Para Philip Schlesinger, (1992), a credibilidade e aceitabilidade das fontes são desiguais pois nem todas reúnem informação eficaz. Desigualdade no valor das fontes e no acesso noticioso.

Uma fonte não deve ser classificada como “oficial” e “não – oficial”, pois é simplista. A fonte é vista como factor/elemento que ocupa domínios sociais onde se exercem lutas no acesso dos meios de comunicação social. Fala de desigualdade do valor das fontes e no acesso noticioso. As fontes procuram moldar a informação na óptica da sua utilização pelos jornalistas.

Há uma relação directa entre “fontes de informação” e “informação eficaz” (igual).

Apresenta uma estratégia interna da fonte de informação:

1) Determinar uma mensagem bem definida, articulada segundo os melhores critérios de satisfação dos valores noticiosos
2) Determinar os media mais apropriados
3) Reunir o máximo de informação útil quanto possível; sucesso/aceitação
4) Prever ou neutralizar as reacções dos adversários

Em "A organização da fonte em situações de rotina de crise" (1984), Stephen Hess analisa as assessorias de imprensa e define as suas estratégias: aplicação da informação positiva e prática.

Para Hess, a crítica que os assessores manipulam as notícias é incorreta, pois a maior parte dos recursos vai para a recolha e pesquisa de informação ou para a satisfação dos jornalistas. Um dos requisitos mais importantes é saber gerir e dar respostas aos pedidos de informação – parte do tempo é dedicado à estratégia, como se vai agir, como se vai passar a mensagem. Se conseguir comunicar com o seu público sem intermédio dos media consegue mais objectividade, porque os meios de comunicação nunca dizem o que o assessor disse, a estratégia não passa necessariamente pelos media.

O princípio da assessoria é responder a todos, mas como gestão de tempo devemos responder primeiro aos mais importantes e assim sucessivamente. As assessorias de imprensa criam a informação ordenada que é diferente de informação controlada, mais uma vez por causa da gestão do tempo e de “espaço” nos media. Deve-se controlar, gerir a informação para conseguir os objectivos da mensagem que se quer passar.

Ex. os passos para a apresentação de uma obra ou edifico: ideia – concurso de ideias – apresentação do projecto – lançamento da primeira pedra – concurso da empreitada – início da obra – visitas à obra – inauguração.

VILLAFAÑE – 1987, ESPANHA

As notícias provêm da seguinte ordem de importância:

*Agenda/rotina;
*Ligadas a Governos;
*Agências noticiosas;
*Outras entidades.


Apresenta um conceito ambíguo de fonte informativa:

*Pessoa;
*Lugar;
*Documento;
*Meios de Comunicação Social;
*Instituição


Chamam fontes habituais de informação ao assessor porque são fontes regulares, também chamadas de estáveis.

Chamam fontes interessantes a pessoas ou instituições relevantes. Abandona a ideia do jornalista recorrer a agências para dar lugar aos intermediários que fornecem e trocam a informação mantendo a redacção ocupada.

ERICSON – “NEGOCIATION CONTROL”, 1989, CANADÁ

Procura perceber a diferença na identificação das fontes. A fonte exerce controle de informação quando selecciona a audiência, quando escolhe o meio de comunicação. As instituições ou fontes permitem aos jornalistas uma abertura que é contrária, “falsa”, porque acima de tudo querem é mantê-los aparentemente ocupados e próximos, controlando a informação através desse acesso controlado à informação.

Ele constrói uma forma de fazer a “abertura” aos jornalistas:

*Segredo (ausência absoluta de informação);
*Confidencial (já aparece alguma informação) – controlada;
*Censura (a informação) – apresenta uma abertura aparente, mas procura esconder os aspectos negativos;
*Publicitação (visibilidade através da publicitação positiva)


A fonte procura criar laços de confiança na busca de controlo e a proximidade facilita. Gerir informação não se limita ao segredo e censura, mas sim à forma como passar informação positiva e torná-la pública.

GUREVICH – 1982, EUA

A ambiguidade do conceito de fonte é criado por ele. Também cria a visão da instituição/grupo/organização como fonte.

Se a fonte é individual é avaliada pela noticiabilidade, se for grupo é pela autoridade e credibilidade.

*Individualmente: relacionado com a capacidade de o assessor fornecer informação noticiável

*Grupo: a credibilidade do partido/organização – mais uma vez leva à hierarquia das fontes.

O valor-notícia é distorcido de acordo com as fontes, o seu valor com a sua credibilidade. Também tem a ver com a capacidade de “vender” a mensagem a quem interessa, a quem é mais poderoso, mais influente.

CURRAN – 1996, LONDRES

Fala das pressões na produção jornalística em que as notícias são resultado do trabalho jornalístico nos recursos e políticas de gestão das empresas. Uma simples decisão sobre a locação do pessoal pode afectar a forma como a mensagem é passada. Aponta a pressão que os meios de comunicação social sentem dentro da própria redação (acima de tudo publicitária).

Repercussões que o poder exerce sobre os media:

1) Restrição à entrada no mercado (barreiras ideológicas dos grupos dominantes);
2) Concentração da propriedade dos meios de comunicação social;
3) Concentração dos meios e recursos dos jornalistas;
4) Pressões do mercado;
5) Peso econômico do grupo;
6) Censura à informação que agride as organizações que publicitam;
7) Rotinas e valores noticia que excluem fontes pouco influentes;
8) Convenções estéticas que tornam o indivíduo como “centro do mundo”;
9) Divisão desigual dos recursos;
10) Pressões dos grupos de poder do Estado.


MANNING – “SOURCES AND NEW SOURCES”, 2001, LONDRES

Paradoxo – as fontes profissionais têm muito poder, mas não conseguem impedir fugas de informação negativa do interior da sua organização. Apresenta a comunicação social como modelo de mobilização social – capacidade de gerar interesse público combatendo a apatia social. Por isso, os jornalistas estão numa posição “mesolevel” que lhes permite com facilidade influenciar a opinião pública.

Ele apresenta quatro problemas e perigos na sociedade capitalista:

1) Spindoctors (carga negativa que está a desaparecer)
2) Rotina estratificada (adaptada e apoiada nas novas tecnologias)
3) Fragmentação de acontecimentos (vários canais dos media e donos dos media que pioram o produto jornalístico porque o fragmentam de mais)
4) Concentração dos meios de comunicação social


Manning chega à conclusão de que as fontes não oficiais (como ONGs e sindicatos) cada vez mais entram nos meios de comunicação social porque passaram a usar as mesmas ferramentas das fontes oficiais. Os gabinetes de imprensa e os assessores mostram como tudo mudou, evoluiu desde Sigal.

Fonte: "http://pt.wikipedia.org/wiki/Fonte_(jornalismo)"

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